Sunday, 18 March 2007

Exclusão digital restringe oportunidades de trabalho para mais de 104 milhões de brasileiros

Rio - A exclusão digital impede que 104 milhões (80%) de brasileiros com idade superior a 10 anos alcancem melhores oportunidades de trabalho. Os números do IBGE apontam para cenário socialmente crítico, em que o universo de desconectados larga atrás na disputa por crediário, informação e cultura.
Aposentados do INSS sem acesso à Internet não recebem contracheque há mais de dois anos, quando o instituto parou de enviar o documento pelos Correios. A falta do comprovante de renda inviabiliza compras a prazo, aquisição de imóveis e investimentos. A estabilidade no funcionalismo também fica distante. Muitos concursos públicos — como o da Secretaria Estadual de Saúde, com 6.017 vagas — só aceitam inscrições pela rede mundial de computadores.
A aposentada Marly Oliveira, 67 anos, há dois não tem nenhum documento de comprovação de renda. "Não possuo computador nem sei mexer na Internet, e não acho que sou obrigada a aprender para ter meu contracheque. Assim como eu, o Brasil envelheceu sem estar preparado para o processo de informatização", protestou a aposentada, que não pôde comprar uma máquina de lavar por não apresentar o contracheque.
Moradores das regiões Norte e Nordeste são os que mais sofrem com a exclusão digital. No entanto, mesmo onde há desenvolvimento e oportunidades, a situação é das mais críticas. No Sudeste, por exemplo, somente 20,1% das pessoas com mais de 10 anos de idade navegam pela grande rede.
As perspectivas não são o consolo, pelo menos para André do Valle, professor de Segurança da Informação da Fundação Getúlio Vargas. "Não dá para ser otimista. A informatização é necessária e impossível de ser travada. Quem não acessa Internet está fora do mercado. O governo deve investir em educação convencional e digital", afirma o especialista.
Os pólos de Internet gratuita são um caminho. Telefonista, Maria José da Silva, 53 anos, aprendeu informática estudando de graça em um posto do Internet Comunitária, do estado: "Ouvia alguém falando de e-mail e não sabia o que era. Hoje, uso para transações bancárias e para me atualizar sobre concursos públicos".
CAMINHOS QUESTIONÁVEIS
As soluções oferecidas pelo Estado parecem ter surtido pouco efeito. Pesquisas apontam para o aumento do número de acessos à Internet no País, mas escondem o imenso contingente de desconectados.
Coordenador do Centro de Inclusão Digital do governo do estado, Celso Fernandes aponta o erro: "Gasta-se milhões com programas de financiamento de computadores e esquece-se do problema de dificuldade de aprendizado, que assola principalmente os idosos". Para ele, o caminho escolhido é sinal de incoerência administrativa.
"Em um país onde há milhares de pessoas morrendo de fome, dar computador ao cidadão é, no mínimo, questionável", alfinetou o executivo. Ainda segundo Fernandes, o jovem de baixa renda é o principal prejudicado pela exclusão: "Esse jovem que não tem acesso à inclusão também não terá meios para fugir da injustiça social".
Projetos gratuitos de inclusão
Os programas "Casas Brasil" e "Computador para Todos" são dois projetos do governo federal que visam à inclusão digital e se destacam pelo objetivo comum, embora atuem de formas diferentes. "O Casas Brasil atende uma parcela da população que não tem como adquirir um micro. Já o Computador para Todos é voltado para outro público, que precisa ter uma renda mínima", explica Denise Direito, representante do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI).
O Proderj (Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação do Estado do Rio de Janeiro) é responsável pelo Internet Comunitária, que disponibiliza laboratórios para a população em todo o estado. O projeto oferece acesso gratuito à Internet em banda larga, além de cursos de alfabetização.
"Esse tipo de curso é ótimo. Muita gente tem vontade de aprender e não pode pagar", afirmou a consultora de vendas Josy Araújo, beneficiada pelo projeto.

Fonte - Jornal O dia.

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