O uso de software e hardware livre em um tempo em que todo e qualquer objeto adquire a capacidade de estar conectado pode ser essencial caso o objetivo seja preservar a transparência e a segurança. A conclusão veio a partir do mineiro Thadeu Cascardo, desenvolvedor e sócio da consultoria de software e hardware livre Holoscópio, que ministrou a palestra “Implementando a Internet das Coisas (IoC) com software livre” no 13º Fórum Internacional de Software Livre (Fisl).
Cascardo prevê um salto de 5 bilhões para 50 bilhões de objetos conectados até 2020. Se esses dispositivos e os softwares que os controlam forem baseados em formato fechado, será impossível saber que tipo de informações são coletadas e de que maneira os dados obtidos são tratados, incorrendo em furos na privacidade.
“As pessoas têm que ter controle sobre as coisas que possuem, não só o controle, mas o conhecimento sobre aquilo. Para isso, é preciso transparência”, diz Cascardo. “A partir do Arduino mostrei como construir essa internet das coisas.”
A crença no potencial do hardware é tamanho que na Holoscópio, nasceu uma versão brasileira do Arduino, placa que popularizou o conceito de hardware livre, e ganhou o nome de Brasuíno.
“A internet das coisas já está acontecendo, já há muitos objetos conectados por aí, mas não é uma tecnologia acessível por enquanto”, opina. Para Cascardo, se a internet das coisas ainda se popularizou é porque ainda se tateia à procura de maneiras eficientes de se ganhar dinheiro com isso. A oportunidade do hardware e do software entra no oportunismo das empresas em buscam plataformas abertas por um motivo muito conhecido: baixo custo.
“As empresas vão atrás do aberto porque é barato e não pela filosofia”, aponta.
COMPUTAÇÃO EM TUDO
O doutor em computação e membro do Centro de Competência em Software Livre da USP (CCSL), Nelson Lago, critica o posicionamento atual das pessoas em relação a esse mundo conectado, que tende a estar cada vez mais presente ao longo dos próximos anos. “As pessoas acham que computação é a Microsoft, é Windows e Word. Computação é o celular, é o chip que está no microondas, é o caixa eletrônico do banco”, diz. Desse universo, Lago arrisca dizer que pelo menos 50% dele está baseado em plataformas livres.
“A começar pelo Facebook. Tudo lá é software livre. Se eles tivessem que pagar licenças, não teriam como oferecer um serviço gratuito”, diz. “Software livre é o que está por trás da Amazon, do Yahoo, do Google. É o que dá dinheiro para todos os gigantes.”
Lago prevê um problema atual sobre o uso de plataformas fechadas que pode atrapalhar a vida das próximas gerações. “Software está cada vez mais impermeado na sociedade. Logo, a tendência é que todos tenham conhecimentos razoavelmente profundos sobre computação. Se você não tiver acesso ao código que faz as coisas acontecerem, isso vai ser um problema”, argumenta.
Para Nelson Lago, vivemos atualmente um “turning point”, em que as grandes empresas disputam entre os formatos aberto e fechado. Por um lado, o Google e seu Android (baseado em software livre), que defende o modelo descentralizado e da interoperabilidade; do outro, Apple e Amazon, centralizadas. “Eles são muito radicais no controle dos produtos e serviço que entram no mercado. É quase uma antítese do que a gente propõe”, opina.
“Talvez isso não seja um problema para o usuário atual, mas para o filho dele será.”
O Fórum Internacional de Software Livre vai até este sábado, 28, com palestras ocorrendo das 10h às 19h, diariamente. Para mais detalhes, acesse o site oficial e continue acompanhando as notícias pelo Link.
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