Os efeitos combinados da crise financeira global, às preocupações com a escassez de recursos naturais e à segurança energética vêm alterando, aos poucos, a forma com que várias partes interessadas das empresas (stakeholders), notavelmente alguns acionistas “ativistas”, percebem a sustentabilidade como fator de geração de valor no longo prazo.
Atualmente é muito comum nas organizações adotar uma divisão da comunicação externa entre a área de Relação com os Investidores (RI), responsável pela divulgação da performance financeira, e as áreas de sustentabilidade (ou comunicação), responsáveis pela divulgação dos dados socioambientais. Esta dispersão de esforços muitas vezes pode causar a divulgação de informações desencontradas ou até contraditórias para o mercado, opostas às tendências que têm se apresentado.
A primeira tendência é o aumento do reconhecimento da sustentabilidade como guia de investimentos. Seguindo o rescaldo da crise global de 2008, o mercado testemunhou o fortalecimento de uma série de iniciativas bancadas pelos investidores como, por exemplo, a United Nations Principles for Responsible Investment (PRI), que saiu de 50 signatários em 2006 para mais de 1.100 em 2012, com ativos gerenciados da ordem de US$ 32 trilhões. O mesmo aconteceu com os Princípios do Equador, que norteiam os impactos socioambientais dos empréstimos realizados pelas instituições financeiras, com 16 signatários em 2003 e que passou para cerca de 80 participantes em 2012.
A segunda é a integração da sustentabilidade na estratégia das organizações. Incidentes como o ocorrido em uma plataforma petroleira no Golfo do México em 2010 fizeram com que a abordagem de quantificação de riscos das empresas e investidores evoluísse, em muitos casos, para uma visão sistêmica que vai além da performance financeira de curto prazo, migrando para a avaliação dos riscos socioambientais envolvidos no médio e longo prazos. Apesar de o número de empresas que reportam as informações de cunho não financeiro ter crescido ano após ano, os investidores ainda se mostram preocupados com a falta de foco nos temas materiais e que realmente impactam os negócios. Ainda há um desencontro da linguagem utilizada nos relatórios e o entendimento por parte dos investidores.
Outra preocupação é a forma de mensurar este impacto na performance das ações negociadas em Bolsa, por exemplo. Recentemente, fizemos uma revisão de 75 estudos sobre o tema e buscamos correlacionar o investimento socioambiental responsável e a oscilação da performance financeira das organizações. Para 51% dos estudos, esta correlação foi positiva, ou seja, a adoção de princípios e critérios de sustentabilidade na escolha dos investimentos trouxe uma performance financeira melhor. Em 39% dos casos esta performance foi neutra, mantendo-se no mesmo patamar e, para os 10% restantes, houve uma piora nos resultados, ou seja, quase um empate técnico, se considerarmos os casos em que não houve correlação ou esta foi negativa.
Isto demonstra que os modelos que mensuram o retorno da sustentabilidade em decisões de investimento ainda são imaturos e não permitem que os tomadores de decisão tenham acesso a um ferramental adequado para a avaliação dos riscos e oportunidades derivadas dos dados não financeiros.
Entretanto, outro aspecto revelado por esta comparação é que as empresas que possuem maior controle sobre as informações socioambientais são mais proativas em responder as demandas dos investidores e a reagir mais rapidamente aos riscos e oportunidades. Como geralmente são companhias mais estáveis, minimizam os custos de investimento e de operação, melhoram o fluxo de caixa e têm acesso facilitado ao mercado de capitais para financiar programas e aquisições.
Os acontecimentos dos últimos anos fizeram com que o escrutínio dos investidores sobre o impacto da sustentabilidade finalmente aparecesse no radar. Ainda há muito a percorrer, mas já é claro que a gestão da sustentabilidade passou a ser encarada como uma matriz que envolve reputação, risco e qualidade das decisões da alta gerência, sendo fundamental para a geração de valor no longo prazo. Uma visão míope para os dados não financeiros, focada nos resultados de curtíssimo prazo, pode vir a ser fatal para muitas organizações.
Ricardo Zibas é gerente sênior da área de Mudanças Climáticas e Sustentabilidade da KPMG no Brasil.
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