Saturday 13 June 2009

3G: tecnicamente viável, economicamente difícil

Leiloada no final de 2007 e em operação desde o primeiro semestre do ano passado, a telefonia celular de terceira geração, a famosa 3G, permite às operadoras oferecer serviços complexos de conexão de dados, trazendo a promessa de internet em banda larga mais fácil no celular e em terminais móveis. Só isso já causaria expectativa de aumento de disponibilidade de conexão nos municípios.


Nesse cenário, as regras impostas no edital da época do leilão trazem ainda mais esperança: na licitação ficou estabelecido que, em dois anos, as operadoras teriam que levar cobertura de telefonia móvel a todos os municípios brasileiros. Também em dois anos, todas as capitais dos estados, o Distrito Federal e as cidades com mais de 500 mil habitantes deveriam ter cobertura total para serviços de banda larga móvel. Em oito anos, o restante dos municípios deveria receber redes 3G.


Essa combinação de fatores e regras suscita uma questão importante: a 3G pode ser usada para conexão de Cidades Digitais no Brasil? Há algumas respostas para isso, e elas devem ser divididas entre as possibilidades técnicas e a viabilidade econômica. Considerando apenas a parte técnica, é possível, sim. As redes 3G podem oferecer ou já vêm oferecendo serviços como videochamada (chamada com voz e vídeo), IPTV, jogos online com vários jogadores e outros serviços que demandam maiores velocidades.


"No aspecto técnico, a 3G pode fazer o mesmo trabalho que faz a rede WiMax, por exemplo. Tecnicamente, não há nenhum problema", define Newton Scartezini, consultor de Cidades Digitais. "Em países como a Áustria, mais da metade das novas aquisições de banda larga já são pelo celular", complementa e ilustra Mario Ripper, consultor de telecomunicações.


Se o aspecto técnico não é problema, não se pode dizer o mesmo da viabilidade econômica. Apesar de as regras indicarem que todos os municípios brasileiros terão telefonia móvel em 2016, isso não significa que o serviço será barato. As operadoras que compraram a maioria dos lotes no leilão das frequências 3G − foram quatro: Claro, Vivo, TIM e Oi − são obrigadas apenas a colocar a rede celular (qualquer uma) em dois anos e a rede 3G em oito anos. Como o processo é caro e, muitas vezes, financeiramente pouco atraente para as operadoras, já que não há número significativo de potenciais clientes, o preço da 3G para o consumidor final, especialmente nestes primeiros anos, tende a ser proibitivo.


E entre esses consumidores finais estão justamente as prefeituras. Ao contrário do que acontece com as redes Wi-Fi, que podem ser implantadas diretamente pelas municipalidades, as prefeituras não podem simplesmente instalar e começar a operar redes 3G. Elas dependem de operadoras, que analisam questões de mercado. "A dificuldade é porque a rede é propriedade da operadora, e ela obviamente vai impor condições para a prefeitura", lembra Scartezini.


"Quando a licença tem uma granularidade baixa [a área licenciada é geograficamente pequena] ou não precisa de licença, como acontece com o Wi-Fi, aí iniciativas das próprias cidades podem ser empreendidas", acredita Ripper. "3G é um mau conceito pra Cidade Digital como iniciativa da cidade. Ela é um elemento importante como iniciativa do Estado ou do regulador", diz o consultor.

Para ele, o leilão das frequências 3G deveria ter sido feito em lotes geograficamente menores, como se vem fazendo nos Estados Unidos para a faixa de 700 MHz, que, segundo ele, foi quebrada em áreas muito grandes e outras pequenas, que permitem a um município ou a um grupo local fazer a compra da frequência e operá-la.


Segundo Newton Scartezini, caso optem pela 3G como forma de conexão, os municípios teriam que fazer acordos com as operadoras para uso desse tipo de aplicação da tecnologia no município. "Neste caso, só tem um modelo de negócios possível: operação privada. Outros modelos não são viáveis", explica.

3G: o que é e como vem se firmando


3G é a terceira geração da telefonia celular digital. A primeira foi a tecnologia analógica, ou AMPS. A segunda geração, também chamada de 2G, foi a tecnologia digital, ou seja, sistemas como o GSM, CDMA e TDMA. Houve também uma geração intermediária, a 2,5G, composta de sistemas como GPRS, EDGE e extensões do CDMA.

A terceira é esta, que representa um pulo na possibilidade de serviços digitais de transmissão de dados. Como permite uma complexidade maior de serviços a uma velocidade maior, é possível comprar pacotes de serviços a preços mais acessíveis dos que eram oferecidos com a 2G ou 2,5 G. E têm desempenho semelhante à banda larga residencial.


A 3G foi leiloada em pregão realizado de 18 a 20 de dezembro de 2007, tendo gerado R$ 5,3 bilhões para os cofres públicos. Sua operação começou no primeiro semestre de 2008. A tecnologia vem crescendo: segundo dados divulgados em maio pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), os terminais de dados (pelos quais se pode acessar a banda larga 3G) representaram em abril 2,12% do mercado.

Os celulares 3G ficaram com 0,93%, com 1,434 milhão de aparelhos habilitados. Os modems 3G (que são acoplados nos computadores e permitem acesso em banda larga de qualquer lugar com cobertura 3G) tiveram um crescimento de cerca de 4,4% de março para abril.

Autor: Maria Eduarda Mattar

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