Monday 4 June 2012

Coleta de dados pelo Google viola a privacidade, dizem os reguladores

Após meses de negociação, Johannes Caspar, uma autoridade alemã de proteção de dados, forçou o Google a lhe mostrar exatamente o que seus carros Street View vinham coletando de potencialmente milhões de seus conterrâneos. Pedaços de e-mails, fotos, senhas, mensagens de texto, postagens em sites e redes sociais –todo tipo de comunicação privada na Internet– foram pegos casualmente enquanto os carros especialmente equipados fotografavam as ruas do mundo.


“Foi uma das maiores violações das leis de proteção de dados que já vimos”, lembrou Caspar recentemente sobre a fiscalização por muito tempo buscada, realizada no final de 2010. “Nós ficamos muito bravos.”


O Google pode ser uma das empresas mais bacanas e inteligentes desta ou de qualquer era, mas também incomoda muita gente –concorrentes que argumentam que faz uso injusto de seu tremendo peso, autoridades como Gaspar que dizem que ele ignora as leis locais, defensores da privacidade que pensam que ele pega coisas demais de seus usuários. Nesta semana, os reguladores antitruste europeus deram um ultimato à empresa, para que mude seu modelo de buscas ou enfrente as consequências legais. Os reguladores americanos podem ser os próximos.


O ataque antitruste onde há muita coisa em jogo, que ocorrerá a portas fechadas em Bruxelas, poderá ser o início de tempos difíceis para o Google. Um caso semelhante nos Estados Unidos, nos anos 90, prenunciou a punição à Microsoft, a empresa de tecnologia mais temida da época.


Mas não se deve subestimar o Google. Ele é soberbo em conseguir se livrar de problemas. Basta perguntar a Caspar ou a qualquer outro de seus pares ao redor do mundo, que tentaram culpá-la do que um deles, o ministro das Comunicações australiano, Stephen Conroy, chamou de “provavelmente a maior violação na história da privacidade”.

A coleta de dados secreta do Street View provocou investigações em pelo menos uma dúzia de países, inclusive quatro nos Estados Unidos. Mas o Google ainda precisa dar uma explicação completa para o motivo da informação ter sido coletada e quem na empresa sabia a respeito. Nenhum regulador nos Estados Unidos viu as informações coletadas dos cidadãos americanos pelos carros do Google.


A história de como o Google escapou de uma prestação de contas plena do Street View ilustra não apenas como as empresas de tecnologia deixaram os reguladores para trás, mas também o relacionamento complicado delas com seus clientes que as adoram.
Empresas como Google, Amazon, Facebook e Apple fornecem novas formas de comunicação, aprendizado e entretenimento, mágica de alta tecnologia para as massas. Elas possuem informação bruta de centenas de milhões de vidas –e-mails íntimos, fotos reveladoras, buscas por ajuda, amor ou fuga.


As pessoas entregam esta informação de bom grado, às vezes avidamente. Mas há um preço: a perda de controle, ou até mesmo de conhecimento, do destino dessa informação pessoal e como está sendo remoldada em uma identidade online, que pode lembrar quem você realmente é ou não. As leis de privacidade e estatutos de interceptação de comunicação são de pouca ajuda, porque não acompanharam a velocidade vertiginosa do progresso tecnológico.

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