O magnata da mineração Bernardo Paz emprega mais de mil pessoas no projeto que mantém no interior de Minas Gerais e que, diz ele, vai durar mil anos.
Não é de admirar que Bernardo Paz seja conhecido como o "Imperador do Inhotim". Cerca de mil funcionários, incluindo curadores, botânicos e derramadores de concreto, fervilham em torno de Inhotim, o complexo de arte contemporânea de Paz, situado nas montanhas do sudeste do Brasil, no Estado de Minas Gerais. Peregrinos que viajam por todo o mundo em busca de arte absorvem obras surpreendentes, como "Sonic Pavilion" ("Pavilhão Sônico"), de Doug Aitken, que utiliza microfones de alta sensibilidade colocados em um buraco de 192 metros para captar o murmúrio grave das profundezas do interior da Terra.
Foto: New York Times Ampliar
Bernardo Paz, nos jardins de Inhotim: desprezo por alguns dos titãs do empreendedorismo brasileiro e desdém especial pelo homem mais rico do Brasil, Eike Batista
Parece que as florestas de eucalipto de Inhotim emanam um cheiro de megalomania. Ali, Paz colocou mais de 500 obras de artistas brasileiros e estrangeiros. Seu jardim botânico contém mais de 1.400 espécies de palmeiras. Ele resplandece ao falar das plantas raras e oníricas de Inhotim, como a titun arum de Sumatra, chamada de "flor-cadáver" devido ao seu horrível mau cheiro.
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Paz, um magro magnata da mineração, fumante inveterado de 61 anos, fala em forma de sussurros quase inaudíveis. Ele se casou com sua sexta mulher em outubro. Tem cabelos brancos até os ombros e olhos azuis pálidos, que lhe dão uma aparência que lembra o debochado e esquelético fazendeiro brasileiro interpretado por Klaus Kinski no filme "Cobra Verde", de 1987, assinado pelo diretor Werner Herzog.
"Este é um projeto para durar mil anos", disse Paz sobre Inhotim, numa rara entrevista, com um cigarro Dunhill pendendo nos lábios.
Foto: Lalo de Almeida/The New York Times
Um olhar através de "Viewing Machine," do artista dinamarquês Olafur Eliasson: 500 obras de artistas brasileiros e estrangeiros nos jardins de Inhotim
É difícil dizer o que as pessoas poderão pensar de Inhotim daqui a séculos. Algumas obras-primas de momentos importantes da arte no Brasil ainda sobrevivem como testemunho da extravagância do passado, como o célebre teatro de ópera construído no auge do ciclo da borracha no final do século XIX, em Manaus, a maior cidade da Amazônia.
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Em outros lugares da América Latina, majestosas coleções particulares de arte contemporânea também foram disponibilizadas ao público, como a Jumex, de Eugenio Lopez, na Cidade do México. E muito mais longe, no arquipélago Seto, no mar interior do Japão, o Benesse Art Site mistura, de modo semelhante, uma arquitetura inovadora com a arte contemporânea.
Mas nenhum desses lugares tem a exuberância do clima quente de Inhotim, situado nas colinas marcadas pelas cicatrizes da mineração, longe dos circuitos de colecionadores do Brasil, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Os historiadores de arte e curadores muitas vezes saem maravilhados com a dimensão e a visão caótica que Paz criou em Inhotim.
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"A quantidade de espaço concedido a projetos de artistas individuais é incomparável, como a maneira como os visitantes transitam de um prédio a outro, refrescando os sentidos, estando na natureza", disse Beverly Adams, autoridade em arte latino-americana que é curadora da coleção particular de Diane e Bruce Halley em Scottsdale, Arizona.
Parece que sobrecarregar os sentidos dos conhecedores ainda entusiasma Paz, que abandonou a escola no ensino secundário e teve como primeira experiência de trabalho a operação das bombas de um posto de gasolina de propriedade de seu pai. Ele então trabalhou no mercado de ações em Belo Horizonte, que odiava, conforme contou, antes de entrar na mineração de ferro e forjar rapidamente um império empresarial privado que financia as operações de Inhotim.
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Algumas obras de Inhotim parecem questionar, se não de fato insultar, a ideia de lucrar com a mineração dos tesouros da Terra. Por exemplo, uma instalação do artista americano Matthew Barney em um domo geodésico inclui uma cena de um crime ambiental inconfundível: um trator enorme coberto de lama segurando uma árvore e suas raízes. Para visitar essa obra, os visitantes visitam as colinas desmatadas, contendo minerais, da Mata Atlântica, floresta que cobria a região.
Inhotim recebeu cerca de 250 mil visitantes em 2011 e espera bem mais neste ano. Mas Paz, que diz que suas empresas fornecem a Inhotim cerca de US$ 60 a US$ 70 milhões para suas operações a cada ano, não vê necessidade de parar por aí.
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A fim de tornar Inhotim autossustentável, ele disse que estava planejando construir nada menos que dez novos hotéis aqui para os visitantes, um anfiteatro para 15 mil pessoas e até mesmo um complexo de "lofts" para aqueles que quiserem viver em meio à coleção. Ele disse que Inhotim, que se espalha por quase 2.020 hectares, tem espaço para pelo menos mais duas mil obras de arte.
Fonte: Portal www.ig.com.br
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