Wednesday, 5 May 2010

Entrevista com Lourenço Coelho - Vice-Presidente Comercial e de Marketing - Ericsson

Como estão as implementações de LTE na Europa?

A implantação da Teliasonera está indo muito bem. Para se ter uma ideia, até o final deste ano a rede será expandida para mais 25 cidades na Suécia e outras quatro da Noruega. No mundo, já existe o compromisso de mais de 60 operadoras de telecomunicações, em cerca de 30 países, de lançar LTE (Long Term Evolution). Ao longo deste ano, a previsão é de que ocorram mais de 20 lançamentos. Nos EUA, a implantação também vai de "vento-em-popa". A tecnologia LTE vai ao encontro das atuais necessidades do mercado de telecomunicações ao aumentar a capacidade das redes em função do crescente tráfego de dados.

Existe uma proposta na Anatel de distribuir a frequência da faixa de 2,5 Ghz da seguinte forma: 60 + 60 para o serviço móvel e 80 para TVs e Wi-Max. Isso é aceitável? Por quê?

A harmonização do espectro de frequência é uma necessidade vital para qualquer país que pretenda estar integrado à comunidade global (necessidade de se prover roaming internacional) e criar ou preservar uma plataforma de exportação, notadamente de aparelhos celulares e "modems". Por harmonização de espectro, entende-se o atendimento integral das recomendações da União Internacional de Telecomunicações (UIT). Como o Brasil escolheu – aliás, com sabedoria! – a faixa de 2,5 GHz, que será a de maior escala mundial, deverá seguir a Opção 1 da UIT, ou seja: 70+70 MHz em FDD e 50 MHz em TDD. Qualquer arranjo diferente só trará problemas.

Que problemas seriam esses?

Primeiramente, consequências catastróficas no desempenho da rede com interferências mútuas entre aparelhos e dispositivos FDD e TDD. Em relação ao roaming internacional, necessidade de hardware específico para o Brasil e introdução de filtro especial. A escala de fabricação também ficaria prejudicada, uma vez que não se poderia exportar o que se usaria no Brasil. A baixa escala de fabricação, por sua vez, provocaria a alta de custo do aparelho ou do "modem" celular, além de se criar uma reserva de mercado, pois não se poderia importar sem adaptação prévia do filtro. Fazendo uma analogia grosseira com redes ferroviárias, vamos imaginar a seguinte situação: a "UIT" especifica uma rede ferroviária de bitola de 1,20 metro, para balizar as especifica&cce dil;ões dos fabricantes de locomotivas e vagões. Anos mais tarde, um de seus países co-signatários decide que a bitola não será 1,20m, mas 1,19m ou 1,21m. O que aconteceria? Nenhum trem cruzaria suas fronteiras (em qualquer sentido), os vagões e locomotivas fabricados não poderiam ser exportados, pois seriam mais caros por falta de escala. Dessa forma, a indústria local de vagões e locomotivas correria um sério risco de perda de competitividade.

Como essas questões têm sido tratadas pela Anatel?

Esse assunto é técnico e continuará sendo tratado como tal. A Anatel sabe disso e sua "consulta pública" espelha esse entendimento. Não creio que haverá mudanças no modo irretocável com que a Anatel tem conduzido esse e outros assuntos técnicos, de grande interesse social e econômico para o consumidor final. O Brasil tem dado mostras inequívocas de alinhamento internacional com os órgãos reguladores globais, tanto no setor de Telecom quanto nas áreas ambientais, sociais, saúde pública, educação e macroeconômicas. Não seria na tão esperada implantação da quarta geração de telecomunicações móveis que o trem iria se descarrilar.

Qual é a importância da Rio Wireless na discussão desses temas?

A Rio Wireless, por seu histórico de reputação ilibada, senso de análise crítica e compromisso com o desenvolvimento das Telecomunicações no Brasil, pode acrescentar muito a essa discussão ao propor temas que estimulem o debate e o entendimento. Sei que essa discussão não é fácil para os atuais detentores da frequência de 2,5 GHz, mas o Brasil é bem maior do que tudo isso e merece nossas melhores decisões.

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