Monday, 31 January 2011

Tensão no Egito mostra a importância dos pontos de estrangulamento da internet

Os recentes acontecimentos na Tunísia e no Egito com relação à internet chamaram a atenção de vários especialistas quanto ao perigo de se ter recursos demais de telecomunicações em um único local físico.

O analista Andrew Blum, do site "The Atlantic", notou que, apesar da densa cobertura da mídia para o fato do Egito ter se desconectado da internet global, não houve muito falatório sobre um anúncio recente feito nos EUA: a Verizon, gigante das comunicações, anunciou que compraria por US$ 1,4 bilhão a empresa Terremark, uma "companhia de computação em nuvem", segundo comunicado da compradora. A aquisição aceleraria a estratégia "tudo-como-um-serviço"da Verizon. O comunicado oficial pode ser visto em < http://bit.ly/ver_terre >.

Acontece que a Terremark não é somente uma empresa de cloud computing. Dentre seus data centers nos EUA, Europa e América Latina, ela é dona de um dos edifícios mais importantes da internet global, uma poderosa fortaleza de concreto quase fora da área central de Miami. Esse prédio é conhecido como o NAP das Américas. < http://bit.ly/nap_am > (O NAP do Brasil da Terremark fica em Barueri, SP < http://bit.ly/nap_br >)

Essa instalação faz com que Miami seja uma das cinco cidades mais interconectadas do mundo, à frente de Chicago, San Francisco e Washington D.C. É o único local nos EUA em que o tráfego digital óptico, Ethernet, MPLS, de voz e internet é controlado de um único prédio físico.

A internet é uma maçaroca de redes cujos switches e roteadores se interligam fisicamente. No caso do Egito, por não ser um nodo significativamente importante da internet, um punhado de cabos de fibra óptica reunidos em um só lugar representaria o tráfego inteiro de dados no país.

No caso do data center de Miami, porém, trata-se do ponto de encontro de mais de 160 redes do mundo inteiro, que lá se interligam por ser um edifício de segurança primorosa, com sistemas redundantes de alimentação elétrica e grossíssimas paredes de concreto, capazes de resistir a um furacão de categoria 5.

Porém, o mais importante, é que no NAP das Américas é totalmente neutro no que tange às operadoras. É como se fosse "a Suíça da internet", um território em que redes competidoras podem se interligar mutuamente.

No entanto, com a compra pela Verizon, a coisa muda de figura. É claro que a companhia menospreza a situação e diz que não há motivo para preocupações, já que a Terremark será comprada como uma subsidiária, mantendo seu status de neutralidade com relação às redes. Mas é inegável que parece um pouco incômodo que uma única empresa possua uma instalação física tão importante.

Vale lembrar que recentemente a Google comprou por US$ 1,9 bilhão seu novo prédio em Nova York, no número 111 da 8ª Avenida. Trata-se de outro edifício que é um dos mais importantes da internet, sendo um terço de seu espaço físico ocupado por empresas de telecomunicações, representando centenas de redes independentes. E agora, a Google é proprietária do prédio inteiro e, obviamente, planeja crescer dentro dessa construção, já que existe pouquíssimo espaço restante na ilha de Manhattan para que a empresa se expanda mais.

Andrew Blum, ao final de sua análise, expressa sua compreensível preocupação, evocando o fato de que, na semana passada, um país africano de 80 milhões de habitantes conseguiu emudecer a internet nacional em poucas horas, aproveitando-se do fato de que a grande rede é uma entidade física.

Ou seja, em qualquer situação é importante saber quem controla os nodos dessa rede. E, com isso, ele conclui que, com essas duas recentes aquisições, Google e Verizon podem ter estremecido as fundações de uma internet aberta, competitiva e, sobretudo, livre.

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