As discussões sobre a expansão do LTE em faixas de radiofrequência onde funcionam apenas equipamentos em TDD podem esbarrar em um problema histórico do compartilhamento de espectro: as interferências. Vendida recentemente na Índia para uso pela telefonia móvel, a faixa de 2,3 GHz tem sido alvo de constantes interferências no Brasil, causadas pela multiplicação de equipamentos de Wi-Fi, que utilizam essas frequências em caráter secundário.
A prioridade de uso dessas radiofrequências é atualmente da radiodifusão, mais especificamente das emissoras de TV. A faixa é usada para a transmissão de informações ao vivo, em links fixos e móveis, nas mais diversas circunstâncias. "É uma faixa muitíssimo utilizada pelas emissoras", garante um executivo do setor. "Mas temos tido vários problemas."
As maiores interferências têm ocorrido nas frequências mais altas da faixa utilizada pelos radiodifusores. Pela distribuição atual, os serviços Auxiliar de Radiodifusão e Correlatos (SARC) e de Repetição de Televisão (RpTV) utilizam três subfaixas: de 2.300 MHz a 2.450 MHz; de 2.450 MHz a 2.483,5 MHz; e de 2.483,5 MHz a 2.500 MHz.
Assim, as TVs dispõem de 200 MHz contínuos para a operação dos serviços. As interferências seriam mais frequentes nas frequências acima de 2,4 GHz.
Ao longo da faixa, o Serviço de Comunicação Multimídia (SCM), o Serviço Limitado Privado (SLP) e de Radioamador podem operar em caráter secundário, ou seja, sem interferir nas operações da radiodifusão. Mas não é isso que ocorre na prática.
Mudança de faixa
A forte interferência fez com que emissoras de televisão procurassem a Anatel há aproximadamente um ano para que uma providência fosse tomada.
Em tese, quem interfere na radiodifusão nesta faixa pode ser punido e ter seus equipamentos lacrados. Mas o grande número de empresas que prestam serviços em caráter secundário, especialmente utilizando Wi-Fi, dificulta a fiscalização e torna a solução total do problema praticamente impossível.
"Quando a gente pega a empresa que está interferindo, levamos de bandeja para a Anatel. Mas descobrir quem causa os problemas é uma tarefa difícil", comenta uma fonte das emissoras.
A proposta da Anatel para solucionar o problema é migrar os serviços das radiodifusoras para outras duas faixas de radiofrequência: a de 2.000 MHz a 2.100 MHz e a de 2.200 MHz a 2.300 MHz. Entre essas duas faixas, em 2,1 GHz, funcionam os serviços de telefonia móvel de terceira geração (3G).
A ideia, em princípio, não agrada as emissoras. Primeiro porque não se trata de uma faixa contínua de 200 MHz, como estabelecido hoje. Segundo porque a Anatel ainda não deu garantias de que estas duas faixas estão realmente "limpas", longe das incômodas interferências.
Desde a reclamação das emissoras, a Anatel tem analisado o nível de qualidade das faixas para garantir que uma eventual migração será tranquila. A radiodifusão já teve uma experiência traumática em uma troca de faixa no passado, quando teve parte de seus serviços deslocada para as frequências de 900 MHz.
Também bastante utilizada pela telefonia móvel, executivos reclamam que há uma forte interferência nessa fatia do espectro, inviabilizando o uso pelas emissoras.
O mundo ideal das empresas de TV seria a Anatel conseguir controlar as interferências nas faixas de 2,3 GHz/2,4 GHz e manter as emissoras nessa fatia de espectro.
A possibilidade de que o espectro seja desocupado pelas emissoras de TV, no entanto, pode abrir caminho no futuro para que as faixas sejam utilizadas pela telefonia móvel no 4G, seguindo o rastro de países na Ásia, como a Índia, que apostam desde já na tecnologia LTE em TDD.
Mas as mesmas interferências que hoje atormentam as empresas de TV podem inviabilizar uma investida futura da telefonia móvel. "Quem pegar essa faixa vai ter problema com certeza", assegura a fonte.
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