Monday 3 October 2011

Desafios para a quarta geração de internet móvel no Brasil

Como Londres não sabe ainda se terá disponível para as Olimpíadas de 2012 a próxima geração de telefonia móvel (4G), a Copa do Mundo do Brasil tem chances de ser o primeiro grande evento global com cobertura de internet super-rápida via celular. É o que planeja a presidente Dilma Rousseff, ao exigir que as operadoras se comprometam a oferecer o serviço nas 12 cidades-sede a tempo do mundial. Mas a implementação da tecnologia dentro desse prazo esbarra, segundo a maioria das empresas, na escassez de recursos e em desafios de infraestrutura. Enquanto o 4G não chega, o que está no ar é a guerra de argumentos entre o governo e as teles.

Os principais focos de divergência são o preço a ser pago e a data do leilão do espectro de 2,5 Gigahertz (GHz), previsto para abril do próximo ano. O 4G só poderá ser oferecido aos consumidores após a venda dessa faixa. As operadoras querem pagar menos por ela e adiar o leilão, argumentando que os investimentos com o 3G já são enormes. Uma fonte de uma operadora admitiu ao GLOBO que há pressão excessiva do governo sobre o cronograma. E para oferecer a próxima geração, as empresas terão que investir bem mais em infraestrutura.

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A TIM, por exemplo, está em campanha aberta para adiar o leilão. A companhia argumenta que seria prematuro e caro demais implementar o 4G enquanto o 3G ainda não é acessível em todo o Brasil de forma homogênea.

- Como é possível nos jogarmos numa nova tecnologia se já encontramos dificuldades na atual? Não duvidamos da qualidade do 4G, apenas não sabemos se vale a pena fazer um esforço para agregar mais qualidade no serviço prestado ao consumidor da classe AAA em vez de melhorar o sinal no Amazonas, por exemplo - afirmou Mario Girasole, diretor de assuntos regulatórios da TIM Brasil.

Segundo a consultoria especializada Teleco, 70,6% dos municípios brasileiros não são cobertos pelo 3G.

Girasole acha mais viável realizar o leilão em 2013. Na semana passada, o presidente da Telefônica, Antônio Valente, também defendeu o adiamento.

Investimento em fibra óptica é o mais urgente para o 4G

Não há previsões oficiais para o montante de investimento necessário para o 4G. Mas só a compra da frequência já representa um volume na casa dos bilhões. O leilão do 3G, em 2007, arrecadou R$5,5 bilhões.

Especialistas apontam como tarefa mais urgente a instalação de fibra óptica em todo o backhaul (nome técnico para a rede de transmissão), que torna possível o tráfego dos dados por protocolo de internet. Esse passo é importante porque satisfaz tanto os pré-requisitos do 4G quanto as necessidades de expansão do 3G - a tecnologia HSPA+, apelidada de 3,5G, com velocidade, em média, cinco vezes maior que a atual e que deve entrar em operação no país a partir do fim do ano. A Vivo afirma já ter toda sua rede compatível com a HSPA+; a Claro diz ter fibra em 73% de sua rede e que terminar o ano com 100%.

Outra necessidade é a instalação de mais Estações Radio Base, que são as antenas que transmitem o sinal. Isso porque o alcance do sinal na frequência 2,5 GHz é menor que a do 3G.

Mas as teles reclamam que sofrem com os mesmos gargalos do resto da indústria. Girasole, da TIM, diz que os fornecedores de equipamento estão "no sufoco". Leonardo Capdeville, diretor de planejamento na Vivo, reclama da falta de mão de obra e da legislação que dá aos municípios o poder sobre as regras de uso do solo:

- Acaba que, para a instalação de antenas, temos que trabalhar com mais de cinco mil leis, e ainda há municípios que querem interferir até no que a Anatel determina.

Também preocupa as empresas o destino de frequências como a 700 MHz, que ficará livre após a transição total para a TV digital, em 2016. O espectro pode ser usado para o 4G e, por ser mais baixo, reduziria a necessidade de novas antenas. O governo ainda não determinou quando essa faixa será licitada.

A avaliação de observadores do mercado é que, na verdade, as operadoras não possuem os recursos necessários para o 4G.

Tenho a impressão que há muito discurso e pouco dinheiro. Na verdade, teremos na Copa o 4G funcionando em pouquíssimos lugares - criticou o presidente do Sindicato das Empresas de Informática do Rio (Seprorj), Benito Paret.

Governo cede à pressão das operadoras em relação ao preço

O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, disse que o leilão só será adiado se as operadoras convencerem "a pessoa que marcou o prazo": a presidente Dilma. Mas o governo já cede à pressão das teles ao admitir baixar o preço em troca de metas de qualidade e cobertura.

- Nosso leilão não vai ser arrecadatório. Vamos tentar contrabalançar um menor preço inicial com compromissos de cobertura e velocidade. A intenção é termos agora mais obrigações do que tivemos no leilão do 3G, de 2007 - prometeu Maximiliano Martinhão, secretário de telecomunicações do ministério.

- A principal meta que o governo deve ter é de qualidade do serviço. Se a Anatel resolver cobrar metas de cobertura, teremos que duplicar ou até triplicar o número de estações, e isso acabará encarecendo o serviço para o consumidor - disse Capdeville, da Vivo.

A Claro, por sua vez, rechaça o adiamento do leilão.

- Achamos que é chegada a hora de o Brasil olhar para o 4G, pois há carência de banda larga no país e seremos foco das atenções no mundo com os grandes eventos que vamos sediar - defendeu Márcio Nunes, diretor de plataformas da operadora.

Apesar da polêmica sobre o leilão, a verdade é que o 4G é visto como caminho incontornável.

- Por serem mais eficientes com o espectro, as redes 4G representam menos gastos para as operadoras. Além disso, o Brasil é um consumidor voraz de dados, e os chamados heavy users precisam de mais capacidade. Logo, por um motivo econômico, aderir ao 4G é a única solução viável para as operadoras - disse Erasmo Rojas, diretor para América Latina do 4G Américas, organização que reúne operadoras

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